Como que num ato transloucado, arrancasse todas as roupas do armário, não uma a uma, mas entortando os cabides. A vontade era de colocar fogo em tudo, sujar, rasgar, não tinha nada ajustado, adequado, lógico Jogar uma tonelada de maquiagens na cama, espalhar com as mãos trêmulas, como se nelas estivesse alguma resposta, passar todas de uma vez. Me colorir. Tirar meu cinza. Fazer de mim, tela, arte ofensiva, a arte que provoca, incomoda, detestável. Escrever no meu corpo com os batons caros toda uma vida, se faltasse espaço, escrever por cima O ódio é uma delícia, é como colocar gasolina potente e fazer de 0 a 120 em pouco segundos Deixar queimar, queima consumir, arder, sentir a morte. Eu morri, morro todos os dias, e nasço todos os dias. Só quero viver se sentir a carne viva, o sangue pulsando, a adrenalina me aterrorizando. Gritar até sangrar a garganta e depois tomar sorvete, sentar nua, colocar no meio das pernas, imunda, borrada, molhada. Sentir gelar, congelar minhas vísceras. Eu as comeria, se tivesse um gosto de pistache. Hoje eu comeria insetos, com shoyu. O shoyu foi inventado para os covardes que querem comer a carne, mas não sentir o gosto do cadáver. Foda-se se está pensando - Mórbida, louquíssima, entregue, visceral. Embarcar em um carrinho de uma montanha russa e não se soltar é loucura. Mesma coisa nascer e não soltar os braços, não berrar, não rir descontroladamente. Livre, sofrido, prazeroso, rápido. Enchi a banheira e me esfreguei até esfolar, a agua ficou vermelha. Meu parto, meu cordão umbilical cortado, sangue de batom, só não chorei porque não tomei um tapa. Exausta, renascida, limpa, manchada , olhei para céu e vi um passado indo, depois pensei, talvez esteja vindo. Guardei tudo, arrumei a bagunça, me encaixei em mim.
top of page
bottom of page
Comments